O ipê da Santa Casa
As bruxas não existem, mas que tem, tem. Os espanhóis sabem disso, como sabem que certos dias quentes são espelhos refletindo o calor do Cão, subindo das fornalhas do inferno.
Gnomos, duendes e outros seres encantados dividem o espaço com o Saci e a Mula Sem Cabeça, enquanto a tropa do Negrinho do Pastoreio carrega no galope selvagem a esperança de uma vida melhor.
Leia também: O show dos ipês amarelos
A Iara sabe disso, o Tatu Branco sabe disso, a noite encantada que é a mãe de todas as noites sabe disso. A lua cheia sabe disso.
Diz a lenda que a florada do ipê amarelo do jardim da frente da Santa Casa de São Paulo tem o dom de mostrar o futuro. Quanto maior a florada, melhor será o ano para a Irmandade que, há mais de quatrocentos anos, cuida dos pobres e desvalidos de São Paulo.
O ipê da Santa Casa está longe das dimensões dos ipês da Mata Atlântica original, que precisavam de cinco ou seis homens de braços abertos para rodear seu tronco.
É uma árvore grande, alta, com tronco grosso, um ipê de respeito entre as árvores da Capital. E sua florada, quando vem pra valer, o faz cena de sonho, visão do paraíso, antecâmara do salão principal da catedral de Deus.
Leia também: O tapete amarelo
Este ano, como o ano passado e o retrasado, o ipê da Santa Casa floriu para valer. Suas flores taparam o céu na frente do antigo prédio da Vila Buarque. E o contraste de seu amarelo com o azul do céu logo atrás aplaude e chancela o que foi feito nestes anos de trabalho insano, recuperando, modernizando, aparelhando o grande hospital para prosseguir em sua missão: prover saúde e assistência para os pobres e desvalidos.
O ipê, mais uma vez densamente florido, é o conforto de que muito foi feito e a mensagem de que há muito mais por fazer. Santa Casa sempre!
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.