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O ipê da Santa Casa

 

As bruxas não existem, mas que tem, tem. Os espanhóis sabem disso, como sabem que certos dias quentes são espelhos refletindo o calor do Cão, subindo das fornalhas do inferno.

Gnomos, duendes e outros seres encantados dividem o espaço com o Saci e a Mula Sem Cabeça, enquanto a tropa do Negrinho do Pastoreio carrega no galope selvagem a esperança de uma vida melhor.

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A Iara sabe disso, o Tatu Branco sabe disso, a noite encantada que é a mãe de todas as noites sabe disso. A lua cheia sabe disso.

Diz a lenda que a florada do ipê amarelo do jardim da frente da Santa Casa de São Paulo tem o dom de mostrar o futuro. Quanto maior a florada, melhor será o ano para a Irmandade que, há mais de quatrocentos anos, cuida dos pobres e desvalidos de São Paulo.

O ipê da Santa Casa está longe das dimensões dos ipês da Mata Atlântica original, que precisavam de cinco ou seis homens de braços abertos para rodear seu tronco.

É uma árvore grande, alta, com tronco grosso, um ipê de respeito entre as árvores da Capital. E sua florada, quando vem pra valer, o faz cena de sonho, visão do paraíso, antecâmara do salão principal da catedral de Deus.

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Este ano, como o ano passado e o retrasado, o ipê da Santa Casa floriu para valer. Suas flores taparam o céu na frente do antigo prédio da Vila Buarque. E o contraste de seu amarelo com o azul do céu logo atrás aplaude e chancela o que foi feito nestes anos de trabalho insano, recuperando, modernizando, aparelhando o grande hospital para prosseguir em sua missão: prover saúde e assistência para os pobres e desvalidos.

O ipê, mais uma vez densamente florido, é o conforto de que muito foi feito e a mensagem de que há muito mais por fazer. Santa Casa sempre!

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.