A chegada dos ipês-rosa
Os ipês-rosa são os últimos a entrar em cena. Isso pode ser um complicador para eles. Eles não disputam apenas com os outros ipês.
Nessa briga entram manacás, azaleias, patas de vaca, sibipirunas, tipuanas e jacarandás-mimosos, o que faz com que se destacar fique muito mais difícil.
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Nem por isso os ipês-rosa se dão por achados ou ficam com medo. Não, eles se vestem com suas flores, um ano mais coloridas, outro mais densas, e vão em frente, pisando firme para entrar no palco da cidade.
Este ano sua chegada foi um pouco tumultuada pelas pitangueiras, que resolveram dar frutos antes da hora e confundiram quase todo mundo, com evidente vantagem para os ipês amarelos, que se aproveitaram da indecisão dos outros para brilhar com toda a força.
O resultado é que qualquer pesquisa colocará os ipês amarelos entre as árvores mais admiradas de 2020. É verdade, os ipês roxos deram show e as quaresmeiras, no começo do ano, também fizeram bonito, da mesma forma que os resedás, com sua florada delicada.
O problema é que a pandemia complicou tudo, alterou a ordem natural e, mais grave, fez a memória coletiva se confundir por causa do isolamento social, do distanciamento das pessoas e das mil mortes por dia.
Não se tem mais certeza se foi antes ou se foi depois, nem se foi assim ou assado. As imagens se diluem, se misturam, se confundem, e o mais novo é o que fica, muitas vezes avaliado de forma incorreta, porque o passado mais distante não tem a nitidez do ontem ou do agora.
Isto poderia ser uma vantagem para os ipês-rosa, mas eles não são tão numerosos, o que rema contra sua vontade de brilhar e fazer bonito na passarela vegetal que enfeita o cinza paulistano ao longo do ano.
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Seja como for, a sorte está lançada. Os ipês-rosa descarregaram sua florada. Agora, seja o que Deus quiser!
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