Os ipês amarelos
Os ipês amarelos são disciplinados. Esperaram as últimas flores dos ipês brancos cobrirem de neve as calçadas para entrarem com tudo, substituindo o branco dos natais nórdicos pelo amarelo dos Eldorados arrancados das lendas pela saga dos bandeirantes.
Lagoa Dourada, Paraopeva, Martírios, Serra de Prata, Sabarabuçu, Goiás e as monções atrás do ouro de Cuiabá.
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Longas viagens pelas matas fechadas, serras e pirambeiras; campos e cerrados; corredeiras e cachoeiras; e os mistérios da Iara. Os pousos para plantar o que comer mais pra frente e seguir no rumo das antigas rotas que plotavam o ouro nas margens dos rios, onde viviam tribos encantadas, cobertas com adornos de ouro e de prata, esperando o bandeirante, como uma promessa, como um sonho real.
O amarelo das flores dos ipês fala dos anos pelejando sertão a dentro, de onde tantos não retornaram, como os antepassados que o poeta Paulo Bomfim foi encontrar nas serras do Paraíso.
Ouro! Mola catapultando os moradores de todo o Brasil para as Minas Gerais, arrancadas de São Paulo pelos emboabas no Capão da Traição.
Ouro levado para Portugal e de lá para a Inglaterra, onde financiou a Revolução Industrial. Não contam nas escolas, mas foi o ouro brasileiro, exportado às toneladas, que viabilizou a primeira revolução industrial e consolidou a indústria britânica e a Grã-Bretanha como a potência naval hegemônica até a Primeira Guerra Mundial.
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Saga dos bandeirantes varando o sertão para encerrar, quatro milhões de quilômetros quadrados depois, o décimo primeiro canto dos Lusíadas.
Saga das mulheres paulistas que ficavam à frente das fazendas nos longos anos que seus maridos descobriam sonhos e faiscavam tesouros. Longos anos, vivos nas flores dos ipês amarelos homenageando o passado.
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