Felicidade
A felicidade existe, sim. “É uma árvore toda arreada de dourados pomos, mas nós não a alcançamos porque está apenas onde a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos”. Sábios versos de Vicente de Carvalho. No mais das vezes, é assim mesmo. Entre nós e a felicidade vai um espaço intransponível, muito mais por nossa limitação do que por qualquer ideia de culpa. No caso, a culpa não existe; existe incompetência, cegueira, falta de humildade e todo o mais cabível para explicar porque a felicidade existe, mas não a alcançamos porque nunca a pomos onde estamos e nunca estamos onde a pomos.
Felicidade é uma gota de orvalho numa pétala de flor. Um raio de sol entrando pela janela da cozinha. O fogo no fogão de lenha esquentando a noite de inverno. A caneca com a gemada quente na primeira luz da madrugada.
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Felicidade são pequenos gestos na rotina do cotidiano… Uma noite de inverno debaixo dos cobertores grossos. O sol ardendo nas costas num meio dia de verão. O capim gordura ondulando no morro num fim de tarde de primavera.
Felicidade é o frio do mar arrepiando a pele. A pequena onda quebrando de encontro à perna. A espuma deixada na praia. E o barulho constante da rebentação marcando o ritmo das ondas na areia molhada.
Felicidade é a brisa de um fim de tarde de inverno passando pelo corpo, enquanto o por do sol ilumina os olhos com promessas de eternidade.
Felicidade é o mais fácil e o mais simples. A mão estendida, os olhos fechados, os lábios abertos para receber outros lábios.
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Felicidade é o que não se fala, mas que os espíritos sentem e os corpos dividem. Felicidade é estar vivo, próximo e atento, para deixar minha vida correr para a sua como o rio que se espraia pela planície.
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