Reabilitações pertinentes
Em época de quebra de paradigmas seculares que enaltecem o preconceito e a intolerância, me parece extremamente importante a revisão de termos que nunca levaram os que os usam a pensar sobre a origem da expressão e se ela realmente representa um retrato fiel da realidade.
Por exemplo, quantas pessoas não usam a expressão “burro feito uma porta” para designar uma pessoa com pouca inteligência? O que também é um critério bastante subjetivo, já que não se sabe com certeza o que é e, consequentemente, como medir a inteligência.
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Mas, voltando ao começo, porque o burro e a porta são sinônimos de falta de inteligência? O que garante ao cidadão que se vale da expressão que, na média, os burros não são mais inteligentes do que parte representativa da espécie humana?
Quem já ouviu falar de burro cair de trilha na beira do barranco? Quem já ouviu falar de burro colocar a pata em falso? Não é por outra razão que os burros colocam as patas no exato lugar em que colocaram as mãos.
E as portas? Ao que consta, as portas, por serem matéria sem vida, não pensam, o que retira a possibilidade de comparar sua inteligência porque, hoje, pelo que sabe a ciência, elas não a têm.
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Quarenta anos atrás, um amigo chamava a mãe de uma amiga de capivara. Era depreciativo e ele não escondia. Hoje seria um despropósito, algo inconcebível, mas na época não era. O problema é que o público não conhecia artigo mais extenso sobre as capivaras, suas características, inteligência, habilidades, etc. Então, meu amigo poderia estar agredindo gratuitamente e de forma equivocada os roedores que, inteligentemente, tomaram de assalto a Cidade Universitária da USP. Toda comparação pode ser perigosa e os pré-julgamentos podem, mais do que ser injustos, ser equivocados. Pense nisso antes de usar um chavão.
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