O olhar alucinado

Parei no semáforo do cruzamento da Avenida Brasil com a Avenida Rebouças e, em menos de cinco segundos, fui ultrapassado e cercado por umas dez motos, também aguardando a abertura do sinal. Nada de novo debaixo do sol. Quem trafega pela Rebouças sabe o que é isso e outras situações mais sérias, como pontapés nos espelhos retrovisores, socos nos vidros e algumas tentativas de assalto para não perder a prática.

É a rotina da cidade grande e a Rebouças, sabe-se lá por quê, é a avenida preferida para boa parte dos motoboys que trafegam por ela cometerem toda sorte de desatinos faz muito tempo.

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Como agora, para completar, implantaram uma faixa de bicicletas, a avenida, que já era estreita, ficou mais perigosa, bem ao gosto dos irresponsáveis que trafegam feito loucos, com a mão nas buzinas finas das motocicletas desembestadas.

Pode mais quem chora menos. Confesso que não sei como não acontecem mais acidentes sérios todos os dias. O respeito que eu tenho pelos anjos da guarda dessa turma alucinada, que evidentemente não é composta por todos os motoboys que atravessam a cidade atrás do ganha-pão de cada dia, é muito grande.

Se eles não ficassem com a mão embaixo de seus protegidos, com certeza as estatísticas, que já são tenebrosas e apontam os homens jovens dirigindo motos como as grandes vítimas dos acidentes fatais, seriam bem piores.

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O cidadão parado ao meu lado estava com a viseira levantada e acelerava sua moto incessantemente, como se a salvação de Jerusalém dependesse dele duelar com Saladino.

Mas o que mais me impressionou foi seu olhar. Seus olhos estavam fixos e esbugalhados como alguém tendo a revelação do paraíso.

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