Os bairros da City
São Paulo é uma colcha de retalhos mal costurados que se espalha imensa como um polvo, engolindo as colinas do planalto, os vales e as várzeas com a fome dos antigos dinossauros nos filmes de Hollywood.
Gigantesca, a cidade se estende, quase sempre cinza, para todas as direções e por mais que se caminhe, quase nunca chegamos nos seus fins.
Na maioria dos trajetos a cidade é triste como um estádio de futebol sem bandeiras, sem festa da torcida. São ruas e ruelas se misturando, se esfregando como as roupas penduradas nas janelas das favelas da vida.
Bairros inteiros surgem cinzas como uma necrose imensa devorando a crosta da terra onde um dia cresceu trigo e videiras e das várzeas onde o arroz era cultivado nos meses de cheia.
Os contrapontos desse cenário são os bairros loteados pela companhia City. Até hoje, décadas depois de planejados e vendidos, os bairros com marca City são um diferencial na qualidade de vida da cidade.
Feitos para preservarem a privacidade e o sossego de seus moradores, até nas áreas onde a administração pública por ação ou omissão se intrometeu, os bairros da City ainda preservam um padrão de vida muito superior ao de quase todos os outros bairros da cidade.
É passar pelo Jardim América, pelo Pacaembu, pelo Alto da Lapa, pelo Alto de Pinheiros, pela City Butantã, pela City Boaçava, e ver e entender por que esses bairros são diferentes e chamam atenção pelas áreas verdes, pelos jardins, pelos recuos obrigatórios.
Eles foram planejados para serem confortáveis, para serem bairros residências por excelência, onde os carros fossem controlados por ruas estreitas e os mal-educados por regras de construção severas.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.