Os primeiros ipês dão as caras
Entra ano, sai ano, é a mesma coisa. Um belo dia, de repente, sem aviso nenhum, você dá de cara com um ipê roxo florido. É o primeiro que você vê e, como acontece sempre, você se deslumbra com a florada maravilhosa.
Os ipês sabem que são especiais. Não que as demais árvores plantadas em São Paulo também não o sejam ou que devam ficar envergonhadas diante da riqueza dos ipês. Não é por aí, ao contrário, todas as árvores merecem respeito e admiração, se não for por nada, porque são parte especial do quebra-cabeças da natureza.
Mas os ipês são um espetáculo à parte. Como tem muito e de todas as variedades, roxo, amarelo, rosa e branco, eles ocupam um lugar marcante na sequência das floradas. Afinal, entre todos eles, suas floradas vão de maio a fim de setembro, começo de outubro, o que é muito mais tempo do que qualquer outra espécie tem para se exibir para a cidade.
Além disso, os ipês são espertos. É verdade, são vaidosos, são orgulhosos, mas são, antes de tudo, espertos. Tirando umas poucas árvores mais moças, sem muita noção da vida e de seu ritmo, os ipês conhecem as manhas e as variações do humor de São Paulo.
E eles se valem delas para fazer o melhor para realçar sua beleza, a riqueza das flores, a elegância dos troncos e seu comprometimento – desinteressado – com os milhões de pessoas que vivem aqui.
A ordem das floradas é milimetricamente planejada. Uma entra depois da outra, mas sempre antes da anterior sair completamente de cena.
E o jogo começa com os ipês roxos, que estão chegando aos poucos, abrindo seus cachos nos lugares mais inesperados, como batedores testando os caminhos para as tropas poderem passar. Daqui a pouco se espalham e tomam a cidade de assalto, começando pelos cemitérios.
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