Pastel é assunto sério
Meu tio Lula dizia que se o céu existe – o que ele tinha algumas dúvidas – então o néctar é chope e a ambrosia é pizza.
Há muita verdade na afirmação. Não tem muita coisa melhor de se comer do que uma pizza bem-feita. Da mesma forma que não tem muita coisa melhor para se beber do que um chope gelado. Melhor do que um, só dois, ainda mais se a pizza da hora for Margherita ou calabresa.
É matéria transcendental, composta de pressupostos bíblicos indiscutíveis, como a possibilidade de todas as possibilidades serem possíveis nos milagres dos santos.
Mas há divergências, há divergências… Não quanto ao chope – este é unanimidade -, mas quanto à pizza.
Tem louco que diz que a ambrosia é nhoque. Não bastasse a heresia, a afirmação mostra absoluto desconhecimento da origem das coisas.
Nhoque não pode ser ambrosia porque nhoque não existe. Como transformar a comida dos deuses em algo que não existe? Não é possível e quem tentar a empreitada corre o risco de ser sumariamente fulminado pelo raio de Zeus ou o martelo de Thor.
Mas tem quem diga que a ambrosia é pastel e aí a discussão ganha cores dramáticas, porque coloca na mesa não a gula, mas dois pesos pesados do prazer indizível de uma maravilhosa refeição.
Durante muitos anos, especialmente enquanto tio Lula foi vivo, apoiei sua posição. Chope era néctar e ambrosia era pizza.
Mas vamos vivendo, vamos experimentando, vamos vendo e hoje, honestamente, estou propenso a apoiar os que garantem que a ambrosia é pastel. Como prova irrefutável, jogo no prato os pastéis da Helena, cozinheira do poeta Paulo Bomfim. Se eles não são a comida dos deuses, então tem algo errado no Paraíso.
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