E a lama entra em cena
Meu amigo Dudu Santos, dos grandes pintores paulistas, mora numa casa/ateliê deslumbrante. Construída aproveitando uma encosta, quem a vê da rua imagina uma casa de dois andares, mas ela desce pelo morro ou, se preferirem, pela pirambeira íngreme, criando outros três andares, até chegar no ateliê do pintor, que fica separado por uma janela de vidro de um jardim montado no fundo do vale.
É casa de filme e ter a oportunidade de ficar no ateliê vendo o Dudu pintar, numa noite de outono, é um programa único e que quem tiver a chance não pode perder.
O Dudu é pessoa de boa índole, não gosta de encrencas e, as que tinha que ter, já teve quando era mais moço e São Paulo outra cidade.
Mas São Pedro anda bravo com São Paulo e tem castigado a metrópole com chuvas torrenciais que se abatem sem olhar onde nem como, com a fúria da natureza em sua crueza, sem se preocupar com as vítimas, nem com os estragos.
A chuva cai e leva o que tem pela frente, auxiliada pelos ventos e pelo granizo, que se mistura com os pingos e bate com força, quebrando vidraças, amassando carros e machucando pessoas.
Num destes dias em que o dono das chuvas estava mais irritado, as águas caíram com mais força e, como já estava tudo encharcado, desceram morro abaixo, se transformaram num colchão de lama que invadiu o ateliê do Dudu.
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Estrago sério. Vários quadros foram atingidos e uma enorme quantidade de lama tomou o chão do ateliê, comendo solta até ser retirada a balde, pelas escadas, quatro andares para cima.
Por que é assim? São Pedro sabe. Ou nem ele. Pode ser que ele abra a torneira, mas a forma como as águas caem não depende dele.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.
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