Uhlandstrasse,144
Berlim Ocidental tinha um eixo básico, a avenida onde as coisas aconteciam, o endereço chique, a espinha dorsal que atravessava a cidade, do Palácio de Charlottenburg até o KDW, a superloja maravilhosa, onde era possível comprar de tudo, de todas as partes do mundo.
Saindo da Kufuersten Damm, as transversais se perdem pela cidade em direção dos bairros, balizadas pelos prédios que, na época, tinham as marcas de tiros da batalha de Berlim, do final da Segunda Guerra Mundial.
A maioria das ruas são arborizadas, limpas, bem cuidadas. Berlim é das cidades com mais verde por habitante do mundo. E o verde corre solto pela cidade, não apenas nos parques, mas ao longo das ruas.
A Uhlandstrasse é uma dessas ruas que saem da KuDamm e entram cidade adentro, feito uma espada, lingando a grande massa urbana.
O número 144 da Uhlandstrasse foi dos lugares que eu mais frequentei na minha temporada em Berlim. Em 1978, o restaurante Cangaceiro era um lugar charmoso, pequeno e aconchegante, escondido atrás de uma porta simples, alguns quarteirões de distância da grande avenida.
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Quem me levou lá pela primeira vez foi meu amigo Gustavo Jaramillo, um colombiano que vivia em Berlim e trabalhava na Fundação que me deu minha bolsa de estudos.
Os donos do restaurante, o Roberto e o Paulo, eram dois brasileiros que moravam na Alemanha fazia tempo. Os dois cozinhavam bem e o restaurante servia pratos muito bons, em teoria, da cozinha brasileira.
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O Cangaceiro era uma espécie de piques. Íamos lá regularmente para encontrar os amigos. Faz tempo que ele não existe. Mas nunca me esqueci de nossas noites nele. Por isso, as vezes que retornei a Berlim, fiz questão de passar no antigo endereço para matar as saudades.
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