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73 mil homicídios por ano

 

Não, as azaleias não têm nada com isso. Não adianta tentar dizer que elas são culpadas, até porque o negócio dela é exatamente o oposto. Elas usam o vermelho de suas flores para embelezar o mundo, não para criar medo entre as pessoas.

Também não adianta tentar culpar os ipês que estão florindo dentro dos cemitérios. Eles também só querem deixar o mundo mais bonito e garantir para os mortos uma eternidade mais suave.

A culpa está na sociedade brasileira. Nós perdemos completamente o referencial ético necessário para tocarmos em frente como uma sociedade organizada. O Brasil, hoje, vive o caos.

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O resultado é que o último censo sobre a violência no país traz impressionantes 73 mil assassinatos em 2017. São 10 mil a mais do que na estatística anterior. Não que as mortes tenham aumentado nessa proporção. A coisa é mais séria. Os números anteriores estavam sub calculados. Tínhamos mais homicídios do que computávamos.

Parte por ignorância, parte por malandragem para baixar as estatísticas ruins, vários homicídios eram lançados como mortes a apurar e por isso não entravam na conta.

Entraram e o retrato é dramático: O país tem mais mortos por ano do que a soma de todos os mortos nas guerras e revoluções que nos horrorizam.

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As cidades mais violentas estão no norte e no nordeste, as menos violentas no sul e no sudeste, sendo que os melhores indicadores são de cidades paulistas.

Não adianta mais tapar o sol com uma peneira. Ou o país reage e entra de sola nos problemas sociais ou não há polícia capaz de dar conta do que vem pela frente. Este quadro pode piorar muito.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.