É primavera
É primavera. O frio do inverno foi embora, ainda que as manhãs arrepiem o corpo, no ar que contrasta com a xícara de café com leite fumegando.
O dia começa a começar mais cedo. As madrugadas chegam quando há poucos dias ainda era escuro. A luz se espalha, clareia o céu, abre o horizonte, espanta os fantasmas que assombram as noites.
Quem acorda cedo, e eu acordo cedo, vê a luz chegar pelas frestas da janela. Uma olhada no relógio diz que ainda não são seis horas, mas lá fora já está começando o dia.
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A vida entra na nossa vida mais cedo. Mais amiga, mais próxima e quente. O frio não assusta, porque não tem mais o frio, as madrugadas são gostosas e permitem sair de baixo dos lençóis e ficar deitado na cama, sentindo o ar arrepiar o corpo.
O dia nasce brilhante. O sol vara a camada de poluição que ainda cobre a cidade e cria cores fantásticas que se estendem até o horizonte, convidando para viagens cósmicas, enquanto nos arrastamos pelo trânsito que trava a ponte.
As árvores que acompanham as ruas recobram seu verde, abrem suas flores, balançam a alegria que as cores espalham.
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Antes foi antes, mas o antes se foi, agora é o tempo do renascimento da vida, na festa da natureza, que ultrapassa todos os limites porque a vida não tem limites.
O limite da vida é a possibilidade de todas as possibilidades. E se é de um jeito para alguém é de outro jeito para outro alguém, e no final é tudo a mesa coisa só que vista ou contada de jeitos diferentes.
O som da buzina deveria enlouquecer quem está parado na rua, mas, tanto faz, agora é manhã de primavera, a buzina que procure sua turma.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.