O verde da primavera
O ano todo a natureza empresta seu verde para se misturar com o cinza da cidade de concreto. Tanto faz a época, o verde, de uma forma ou de outra, se espalha, permeia as construções e, se deixar, toma de volta os espaços que o ser humano tirou da natureza séculos atrás.
O verde não tem pressa. A natureza sabe que, mais dia, menos dia, tudo que fizemos será de novo dela e que então o verde se espalhará sobre as nossas construções, como se espalha sobre as pirâmides maias, os templos da Ásia ou as ruínas perdidas de tantas cidades que foram e deixaram de ser. É assim porque é assim, não há o que fazer.
No verão, o verde sobra, se impõe voraz, alimentado e turbinado pelas chuvas que enchem as raízes e aumentam a coragem das plantas.
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No verão, um muro é um pequeno obstáculo, facilmente transposto pelo galho que se estende, pela trepadeira que gruda nos tijolos, pelos arbustos que escondem as casas.
O outono traz a força dos frutos, que se abrem maduros e doces, convidando para uma mordida na polpa tenra e úmida. Mais do que isso, o outono traz a florada do capim gordura, que coloca em contraste o verde e as flores das paineiras e o roxo das sementes do capim.
O inverno troca o verde forte pelas cores fortes das flores dos ipês, das azaleias, das patas de vaca e tantas outras que desabrocham nos meses frios.
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Mas é a primavera que consolida o verde mais verde, mais intenso, mais vivo. Nela, as folhas adquirem outra força, outra relevância, outro jeito de ficar verde, que não tem em nenhuma outra estação do ano.
O verde da primavera brilha, limpo, profundo e transparente como se as águas do mar se estendessem sobre as árvores para protegê-las e fecundá-las. Como se o verde fosse o ninho das aves…
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.