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O verde da primavera

 

O ano todo a natureza empresta seu verde para se misturar com o cinza da cidade de concreto. Tanto faz a época, o verde, de uma forma ou de outra, se espalha, permeia as construções e, se deixar, toma de volta os espaços que o ser humano tirou da natureza séculos atrás.

O verde não tem pressa. A natureza sabe que, mais dia, menos dia, tudo que fizemos será de novo dela e que então o verde se espalhará sobre as nossas construções, como se espalha sobre as pirâmides maias, os templos da Ásia ou as ruínas perdidas de tantas cidades que foram e deixaram de ser. É assim porque é assim, não há o que fazer.

No verão, o verde sobra, se impõe voraz, alimentado e turbinado pelas chuvas que enchem as raízes e aumentam a coragem das plantas.

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No verão, um muro é um pequeno obstáculo, facilmente transposto pelo galho que se estende, pela trepadeira que gruda nos tijolos, pelos arbustos que escondem as casas.

O outono traz a força dos frutos, que se abrem maduros e doces, convidando para uma mordida na polpa tenra e úmida. Mais do que isso, o outono traz a florada do capim gordura, que coloca em contraste o verde e as flores das paineiras e o roxo das sementes do capim.

O inverno troca o verde forte pelas cores fortes das flores dos ipês, das azaleias, das patas de vaca e tantas outras que desabrocham nos meses frios.

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Mas é a primavera que consolida o verde mais verde, mais intenso, mais vivo. Nela, as folhas adquirem outra força, outra relevância, outro jeito de ficar verde, que não tem em nenhuma outra estação do ano.

O verde da primavera brilha, limpo, profundo e transparente como se as águas do mar se estendessem sobre as árvores para protegê-las e fecundá-las. Como se o verde fosse o ninho das aves…

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.