O mensageiro do vento
Depois de anos pendurado num lustre no terraço lá de casa, o mensageiro do vento começou a sentir os efeitos do tempo. Primeiro arrebentou o barbante que segurava um dos tubos de metal; depois, quando eu troquei o barbante arrebentado e recoloquei tudo no lugar, arrebentou o fio guia que prendia o conjunto no lustre.
Para consertar, tive que tirar o mensageiro do vento do seu lugar, cortar os barbantes, passar novos fios, amarrá-los e recolocar o címbalo no seu lugar velho de guerra, pendurado no lustre do terraço.
Trabalho delicado, que alguém estabanado como eu consegue fazer, mas lentamente, pelos riscos envolvidos e tudo dar errado.
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Agora o mensageiro do vento está de novo funcionando, com todos os tubos no lugar, relativamente soltos para balançarem acionados pelo vento, prontos para cantar sua música, quando a brisa passa pelo terraço.
Tem quem goste, tem quem não goste dos mensageiros do vento, as estruturas feitas de caninhos de vários tamanhos e materiais, que ficam pendurados e batem um nos outros quando o vento passa por eles.
Eu gosto do som dos mensageiros do vento. Além disso, como ensina o espanhol: “as bruxas não existem, pero que as há, as há”.
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Dizem que os mensageiros do vento trazem sorte todas as vezes que balançam e cantam. Como sorte não faz mal a ninguém, pelo contrário, é muito bom ter, não custa nada ter um mensageiro do vento balançando no terraço lá de casa.
Se não for por nada, se não trazem sorte, também não trazem falta de sorte, então porque não ter a engenhoca delicada pendurada na rota do vento? Ainda mais depois de tantos anos embaixo do lustre do terraço. Virou parte da decoração. Consertá-la não custa nada, distrai e dá um sentido para a manhã de domingo, quando os outros ainda estão dormindo.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda à sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.