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O urubu é nosso

 

Na década de 1960, os Estados Unidos descobriram que tinham matado quase todos os seus urubus e o resultado foi o surgimento de doenças decorrentes do apodrecimento das carcaças dos animais mortos.

Para reequilibrar o ecossistema e acabar com as doenças que se espalhavam pela Califórnia, os norte-americanos resolveram importar urubus semelhantes aos que tinham praticamente exterminado.

E esses urubus estavam no Brasil. Pragmáticos, os americanos vieram para cá comprar urubus e foi aí que, mais uma vez, o Congresso Nacional deu mostras de elevado patriotismo.

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Pode parecer piada, mas não é. Foi apresentado um projeto de lei proibindo a exportação de urubus para os Estados Unidos.

As razões para isso eram estratégicas e tinham entre seus principais objetivos evitar que os norte-americanos utilizassem os urubus brasileiros em pesquisas, entre outras, para aumentar seu poder frente à União Soviética, então em plena Guerra Fria.

Nunca ficou muito claro como a grande democracia do norte se valeria dos urubus na Guerra Fria, mas, por via das dúvidas, em nome dos interesses superiores que governam as relações internacionais, o Congresso brasileiro decidiu proibir a exportação dos nossos urubus para repovoar os céus da Califórnia.

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Nunca soube onde os norte-americanos foram se abastecer de urubus, mas que o fizeram, fizeram, porque a Califórnia, atualmente, tem urubus nos seus céus e, ao que tudo indica, as pragas e doenças transmitidas pelas carcaças se decompondo acabaram.

É verdade, de lá para cá o Brasil mudou muito e nas últimas eleições uma safra nova de políticos ganhou espaço. É torcer para projetos como este não serem mais apresentados.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.