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É carnaval

 

É carnaval. Mais de 600 blocos devem tomar as ruas da cidade. Muita gente vai sair atrás deles, muita festa vai rolar, muita coisa vai acontecer, mas o carnaval de hoje, com certeza, não é mais o carnaval de antigamente, ou até do passado mais ou menos recente.

João sabe disso e Maria sabe disso, por isso os dois estão na rua, estão na folia, mas dispostos a não passar dos limites, dispostos a fazer a coisa certa, se é que tem uma forma certa de se pular carnaval.

Carnaval e coisa certa é contraditório. Carnaval foi feito para o povo colocar para fora tudo que tem vontade de fazer, porque, depois dos quatro dias de folia, vêm quarenta dias de sacrifícios, representados pela quaresma.

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Época de jejuns, de rezas e missas, de autoflagelação, de dor e sofrimento, repartindo entre as pessoas as dores e os sofrimentos do Cristo no longo caminho até a cruz.

O carnaval foi criado e incentivado para dar aos cristãos condenados à quaresma a oportunidade de antecipadamente colocarem para fora seus instintos mais instintivos, sem levar em conta educação ou barreiras religiosas. Sem limites para avançar o sinal fechado, ou melhor, para não ter sinal fechado.

João e Maria não conhecem toda a história, mas os blocos nas ruas são um chamariz irrecusável, a cenoura na frente do nariz do coelho.

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Então, vamos que vamos! É carnaval! É hora de soltar a fera presa dentro de cada um, mas soltar a fera sem dentes ou garras que machuquem ou agridam quem quer que seja.

As marchinhas do passado ficam no passado, as brincadeiras do passado ficam no passado. O que João e Maria querem é brincar de acordo com as regras atuais, cada um na sua, todos respeitando os outros, porque é assim que deve ser.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

 

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.