É carnaval
É carnaval. Mais de 600 blocos devem tomar as ruas da cidade. Muita gente vai sair atrás deles, muita festa vai rolar, muita coisa vai acontecer, mas o carnaval de hoje, com certeza, não é mais o carnaval de antigamente, ou até do passado mais ou menos recente.
João sabe disso e Maria sabe disso, por isso os dois estão na rua, estão na folia, mas dispostos a não passar dos limites, dispostos a fazer a coisa certa, se é que tem uma forma certa de se pular carnaval.
Carnaval e coisa certa é contraditório. Carnaval foi feito para o povo colocar para fora tudo que tem vontade de fazer, porque, depois dos quatro dias de folia, vêm quarenta dias de sacrifícios, representados pela quaresma.
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Época de jejuns, de rezas e missas, de autoflagelação, de dor e sofrimento, repartindo entre as pessoas as dores e os sofrimentos do Cristo no longo caminho até a cruz.
O carnaval foi criado e incentivado para dar aos cristãos condenados à quaresma a oportunidade de antecipadamente colocarem para fora seus instintos mais instintivos, sem levar em conta educação ou barreiras religiosas. Sem limites para avançar o sinal fechado, ou melhor, para não ter sinal fechado.
João e Maria não conhecem toda a história, mas os blocos nas ruas são um chamariz irrecusável, a cenoura na frente do nariz do coelho.
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Então, vamos que vamos! É carnaval! É hora de soltar a fera presa dentro de cada um, mas soltar a fera sem dentes ou garras que machuquem ou agridam quem quer que seja.
As marchinhas do passado ficam no passado, as brincadeiras do passado ficam no passado. O que João e Maria querem é brincar de acordo com as regras atuais, cada um na sua, todos respeitando os outros, porque é assim que deve ser.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.