A procura da aura

Quando eu era mais moço dediquei um certo tempo para tentar encontrar minha aura. Duas vezes por semana eu frequentava um centro hipoteticamente comandado por guru indiano e sentado na posição do lótus, soltava o som mágico, uhmmmm, até ficar tonto.

Confesso que nunca achei minha aura. Isso me leva a algumas reflexões sobre ela, sobre a forma da busca e sobre o seu sentido, se é que havia algum sentido naquilo tudo.

A primeira ideia é a mais radical. Como mesmo procurando eu não a encontrei, então a verdade é que a aura não existe. É uma invenção ou até um dogma religioso, e como todo dogma, fora do alcance da comprovação física.

A segunda é menos radical e parte da premissa da minha falibilidade como ser humano. Na medida em sou humano e imperfeito, minha imperfeição me impediu de perceber a chama divina e imortal, também chamada aura, envolvendo meu corpo mortal.

Finalmente, a explicação que mais me agrada. Minha aura é tímida e por isso, toda vez que eu a procurava, se escondia em algum canto fora do meu alcance e ficava humildemente entoando cantos sagrados em homenagem às divindades cósmicas encarregadas dos destinos do universo. Sua busca era pela integração interestelar, pelo encontro do inefável dentro de cada ser.

Seja como for, o fato incontestável é que minha aura nunca deu as caras. Não sei como ela é, nem se ela existe. Como tudo é possível e conhecemos muito pouco as dimensões do universo, pode ser que sim, pode ser que não. A única certeza é que anos depois, um belo dia dei com meu antigo guru transformado em cigano espanhol lendo mão e tarô.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h