São Paulo não tem mais garoa
Já teve um tempo que São Paulo era conhecida como terra da garoa. Invariavelmente a chuvinha fina, fria e chata tomava conta do cenário deixando cinza e triste a paisagem urbana.
Para se proteger dela, as pessoas usavam galochas, cachecóis e guarda-chuvas. E mesmo assim morriam de pneumonia, vítimas da friagem, depois de pegarem uma constipação.
Ah, os contos de Alfredo Mesquita mostrando a vida da classe média daquela época. Vale a pena serem lidos, pelo talento do autor e pela narrativa de um modo de vida que não existe mais.
São Paulo era a cidade que mais crescia no mundo. E todo mundo se orgulhava disso. E do Estado ser a locomotiva do Brasil.
Dia a dia a cidade mudava de cara. Perdia os antigos sobrados dos bairros próximos ao centro velho, abrindo espaço para os arranha-céus que hoje são parte da paisagem.
Mas a garoa, essa parecia imutável. Com sobradinhos onde se desenrolavam os dramas das famílias, ou com prédios cada vez mais altos, a garoa parecia eterna, condenado a cidade a conviver com o frio cortante que ela trazia na chuvinha enviesada, caindo lentamente no dia cinza e úmido.
Hoje São Paulo não tem mais a garoa enfezada que lhe marcou a paisagem. Ela também passou. O que não quer dizer que o clima da cidade ficou muito melhor.
Não ficou. E para matar as saudades, certas madrugadas do ano ainda trazem um projeto de garoa, na neblina densa que cobre o resto de noite e faz a vida parecer filme. De antigamente ou de terror.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.