As paineiras estão floridas
As paineiras estão floridas. A florada das paineiras, todos os anos, é um momento especial. As da Ponte da Cidade Universitária, então, têm uma história e uma razão própria para florirem mais do que as outras.
Marcam as rotas do sul, o caminho do Guairá, os campos de Curitiba, os pampas e os índios dos Sete Povos das Missões. Falam de Fernão Dias, de Antonio Raposo Tavares, de Mourato Coelho e Matias Aires, bandeirantes que demandaram o sul e voltaram com milhares de índios.
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Há quem diga que vieram acorrentados, mas não me parece viável trezentos bandeirantes, armados com bacamartes e arcos e flechas, capturarem três mil índios e trazê-los para São Paulo, se os índios não quisessem vir. Entre os jesuítas e os bandeirantes, melhor os bandeirantes.
As paineiras da Ponte são as guardiãs dessas memórias quase esquecidas por um povo que não guarda nem cultiva seu passado.
É bom, é ruim? Tanto faz o que seja, porque é ruim, mas faz parte de uma longa história começada em Portugal, onde o povo também não lembra seus heróis.
As paineiras sabem disso. Por isso fazem o que podem, na Ponte da Cidade Universitária, na Ponte da Cidade Jardim, em outros pontos da cidade, onde seus troncos grossos, cobertos de espinhos, e seu galhos vestindo flores cor de rosa contrastam com o céu azul dos meses de outono.
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Este ano a florada das paineiras chamará pouca atenção. O vírus terrível que tomou de assalto o mundo, numa aventura alucinada na qual desafia a ciência, o conhecimento e a resistência humana, decidiu que poucas pessoas verão as paineiras e menos ainda prestarão atenção nas grandes árvores carregadas de delicadas flores cor de rosa.
Faz parte da vida. Viver não é fácil. Nem sempre a vida corre como queremos. As paineiras sabem disso. O ano que vem será outro ano.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.