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Frutas

Abacaxi bom é de caminhão que vende na rua. Não adianta, é praticamente impossível alguém comprar abacaxi bom em supermercado.

Até pouco tempo atrás a regra valia para melão. Melão de supermercado era bonito, mas não tinha gosto.

Por falar nisso, o que aconteceu com as frutas ao longo das últimas décadas é um mistérios que a ciência explica, mas deixa o cidadão triste.

Não tem dúvida, as frutas atuais são lindas, brilhantes, sem bichos, sem manchas, perfeitas em sua forma exata, como se saíssem de uma natureza morta pintada por um anjo para definir a forma e a cor das frutas.

Goiabas lindas. Mangas impressionantes. Maracujás inacreditáveis. Bananas de deixar o Tarzan com inveja. Pena que todas sem gosto. Ou com um gosto que lembra levemente a fruta original, que tinha aspecto bem mais precário, mas era saborosa, tinha gosto – gosto de fruta.

As frutas de hoje são feitas para serem devoradas com os olhos. Ao contrário, as frutas dos pomares das fazendas e dos caminhões que vendiam frutas e verduras de porta em porta, não eram bonitas, nem eram pensadas para ser bonitas. O que valia era o gosto. Goiaba tinha gosto de goiaba. Manga tinha gosto de manga.

Abacate tinha gosto de abacate, e por aí ia, numa sucessão de sabores deliciosos que perderam espaço para polpas insonsas, em troca de cascas maravilhosas.

É verdade, há exceções. Algumas mangas são feitas para serem comidas de joelhos. E os abacaxis dos caminhões que os vendem nas esquinas costumam, numa escala de zero a dez, tirar de oito para cima.

Mas essa história tem um lado mais triste. Várias frutas tipicamente brasileiras simplesmente desapareceram. Quem sabe que araçá é fruta? Quem já ouviu falar em cajamanga? O que é sapoti?

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.