Os ipês floridos
Os ipês entraram em cena. A cidade vibra nas cores dos cachos maravilhosos, pendurados nos galhos dos ipês roxos. Eles são os primeiros da longa fila que vai até outubro, com mais ou menos intensidade, em função da quantidade de ipês de cada cor plantados na cidade.
Os diferentes tipos de ipês são parentes, mas isso não significa que não haja rivalidade, ciúme, inveja e até falta de coleguismo dividindo as árvores em grupos com alguma afinidade. A mais comum é a cor das flores, mas não é a única, nem a de maior impacto na vida das árvores.
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Tem o mais apressado, o soberbo, o sem caráter, o leal, o ético, o devasso, enfim, toda a longa relação de defeitos e qualidades aplicáveis também aos seres humanos.
Apesar de todas as diferenças que distinguem os humanos das árvores, há uma série de pontos que se casam, se cruzam, são semelhantes e geram as mesmas consequências.
São eles, aliás, que pautam as ações de cada planta, no momento anterior à sua efetivação. Fazer ou deixar de fazer são atos de vontade, mas não são absolutos, nem obrigam até a sétima geração.
Os ipês roxos sabem que agora é seu momento, por isso dão o máximo para enfeitar seus galhos e assim, sem querer, enchem a cidade de cor e poesia.
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Para eles a pandemia é indiferente. O problema seria uma praga que atacasse suas folhas ou suas flores, mas um vírus que passa ao largo e só cobra seu preço dos seres humanos, esse é indiferente para os ipês.
Mas, apesar de não terem nada com isso, nem se meterem na história dos outros, os ipês prestam um serviço inestimável ao deixarem suas flores balançando enfeitarem a cidade. Graças a elas nos esquecemos, ainda que por poucos minutos, do drama do coronavírus.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.