De repente o Pica-Pau
As aves que aqui voam não querem lá voar. As matas fechadas, os campos altos, o cerrado, ah! o voo escondido, por entre os galhos retorcidos! Quem dera não houvesse gaviões, nem tucanos invadindo os ninhos, mas eles estão aí, vivos e com fome, atrás dos filhotes, como as cobras que gostam de chupar os ovos.
Leia também: Os pássaros em São Paulo
Viver no mato é para pássaro caipira, criatura sem conhecimento do mundo, sem vivência das coisas, nem lembrança do caminho. Bom é viver na cidade, aproveitar do bom e do melhor, ter casa com telhado, fazer os ninhos nos beirais, comida farta nas tigelas dos cachorros e banho de graça para completar.
Os periquitos sabem disso. Os grandes, os médios e os pequenos, os mais e os menos coloridos, usam e abusam das facilidades da cidade, senhores dos jardins com palmeiras, nas quais se fartam devorando os cachos de coquinhos.
Houve época em que o céu de São Paulo era dos pardais. Hoje, as pombas infestam a cidade, enquanto as rolinhas se esbaldam em corridinhas curtas pelo chão.
Almas-de-gato balançam as longas caudas, pousadas nos galhos das sibipirunas. E até um jacu, certa vez, pousou no belo pau-brasil do jardim do vizinho.
Sabiás e bem-te-vis são pragas. Aonde se olha tem um ou dois. A vida na cidade é um convite para procriarem e já, já a piação dos sabiás vai abrir a temporada, na sinfonia se repetindo a cada madrugada.
Leia também: As pombas e o jacu
O que não falta são aves. Umas mais comuns, outras nem tanto, algumas bem raras. Não tem muito beija-flor. E mais raro é um canarinho-da-terra. Mas outro dia ouvi um toque-toque… olhei para o alto da palmeira e lá estava ele, um belo pica-pau com seu penacho arrepiado.
Assine nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.