Pela cidade
A cidade abre seus segredos aos iniciados, aos que dividem com os antigos os segredos dos séculos, escondidos debaixo das tábuas largas, nos porões das velhas igrejas.
A cidade se dá aos que conhecem a caveira da índia e outras histórias encantadas, gravadas na taipa das velhas igrejas. Que conhecem os sinos que tocaram na noite da independência e na noite de gala da Aclamação.
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A cidade é amiga dos que varam suas ruas nas noites frias do inverno úmido, que faz os ossos doerem dentro das roupas. É amiga dos que sabem os caminhos para antigos lugares que não existem mais.
A cidade vive no sopro dos que assobiam velhos sambas que ninguém mais se lembra. Vive nos olhos que buscam as flores que insistem em nascer nas frestas das calçadas, nas sarjetas sujas, como se Deus escolhesse esses lugares para mostrar a força da vida e a poesia humilde que nasce e morre diariamente.
A cidade se lembra dos antigos poetas, que cruzavam suas ruas nas madrugadas dos cabarés. Lembra as boates da Major Sertório, os dancings da Avenida São João, Avenida Rio Branco, Rua Aurora e região.
A cidade lembra as mulheres nas calçadas. Faróis passando devagar. Piadas, gritos, às vezes um tiro e a sempre presente sirene – polícia ou ambulância, lembrando que há um outro lado que também faz parte da vida.
A cidade caminha na saudade do Poeta, nas histórias do Poeta, nos marcos que marcam a passagem do Poeta e sua presença constante na noite que não existe mais.
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A cidade marca a vida do Poeta no sol do meio dia, nos postes apagados, nos sabiás e nos gaviões que dividem o céu com as rolinhas, que entram nas salas dos apartamentos só para mostrar que na casa do Poeta a vida pega diferente. A cidade se enfeita na saudade de Paulo Bomfim.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.