O fim da história privada
Ninguém mais escreve cartas. As redes sociais tomaram o espaço e as mensagens pelo celular se impuseram de forma avassaladora como meio de comunicação obrigatório, para o bem e para o mal. E se formos ao velho e já bastante decadente e-mail, a situação é a mesma.
A comunicação atualmente é imediata e sem futuro. A mensagem de ontem ainda pode ser boa hoje, mas estará velha amanhã. É necessário abrir espaço para outras mensagens, outros e-mails, outras tuitadas ou o que venha pela frente e, para isso, é necessário deletar o texto anterior.
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As cartas eram uma fonte rica e inesgotável de informações sobre a vida das pessoas, a vida privada, que faz a história do cotidiano ser rica e explicar muito da vida pública. A sua compreensão se dava, em parte, pela leitura e análise de cartas e documentos trocados entre particulares, na maioria das vezes dando conta dos fatos rotineiros, outras falando de negócios, contratos e tratativas empresariais.
Com o fim das cartas, o estudioso da história perde uma fonte única de pesquisa e informação a respeito da vida das pessoas ou da vida de uma única pessoa em especial, a qual é o objeto do seu estudo.
Nunca imaginei que minha mãe fosse guardá-las, mas, quando ela morreu, ao esvaziar seus armários, dei com uma caixa contendo todas as cartas que escrevi no período em que morei na Alemanha. Elas formam um rico retrato de dois anos da minha vida. Hoje, essa memória não existiria. A comunicação por mensagens, textos curtos, no máximo e-mails, é apagada pouco tempo depois de enviada, o que deixaria os meus dois anos apenas na memória, que, 40 anos depois, já não seria perfeita.
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O que pode ser feito para perpetuar a história das pessoas? Eu não sei. Mas confesso que fico triste porque passagens que dão sentido à vida simplesmente serão deletadas e vão sumir, sem deixar lembrança.
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