Beleza e poesia
Nem sempre a poesia é bela, mas a beleza tem sempre poesia. Seja na natureza, na nossa vida, nas pessoas em volta, pode haver beleza, ou não, mas, havendo há também, obrigatoriamente, pelo menos um pouco de poesia.
Poesia que se confunde com os sentimentos e os realça, como a falta da cabeça da Vitória de Samotrácia realça a estátua, criando uma geometria nova entre as asas e o movimento do corpo.
Existe poesia que não é bela, mesmo sendo boa poesia. Nem sempre a beleza é o tema; e a fome, a miséria e a doença nunca são belas. Então há poesia da melhor qualidade que por decisão do poeta não canta, e até mesmo renega a ideia da beleza.
Mas o inverso não existe. Não há beleza que não tenha poesia. Seja nas formas inigualáveis e estonteantes de um corpo de mulher, seja num pôr do sol, num quadro de Renoir, numa sinfonia de Mozart ou numa estátua de Brecheret a poesia é parta do todo e o faz mais belo, mais próximo do divino, como se o sopro sagrado de Deus quisesse ser parte da obra para relembrar ao ser humano sua essência e sua origem.
Há poesia na beleza indescritível das cataratas do Iguaçu. Há poesia na beleza assustadora da serra do Mar vista do oceano. Há beleza na coragem do homem que vendo a serra à sua frente, não se intimidou, mas escalou-a para do seu ponto mais alto poder olhar pro mar.
Há poesia na beleza assustadora da cidade se espraiando pelo planalto. Há poesia na vida dentro da cidade, até mesmo quando não tem beleza, porque a vida na cidade nem sempre é bela.
Há poesia nos teus olhos e há poesia nos meus gestos. Há poesia em cada encontro. Em cada entrega. Em cada momento e na sua beleza.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.