Antes da tempestade
Os momentos que antecedem as tempestades lembram muito as horas escuras em que o amor duvida do amor e o peito se fecha, sem razão, sem explicação lógica, sem vontade de escutar, porque o mundo é feio e a pessoa amada não nos ama, ou o coração acha que ela não nos ama, ao contrário de todos os sinais.
Primeiro há uma calma que não é calma, mas apenas a tensão surda das forças primárias se acertando para a explosão que ameaça, ameaça, mas demora um pouco mais, primeiro escondendo o sol atrás do escuro das nuvens negras que o vento traz no assobio sibilante anunciando os primeiros pingos que caem grossos, lentamente, um depois do outro.
Depois, nas árvores vergadas, resistindo bravamente à força da natureza correndo alucinada, como as deusas buscando as filhas raptadas pelos deuses nas histórias impressionantes de todas as mitologias.
E as gotas começam a cair mais depressa, mais depressa, numa sequência que se acelera rapidamente, no ritmo do vento crescendo de intensidade, dobrando cada vez mais as árvores mais fracas.
E a chuva desaba, e se transforma em tempestade, em pingos grossos que caem aleatoriamente, trazendo no ritmo rápido as gotas transformadas em gelo, no granizo que despenca do céu numa batucada sem cadência, marcando a terra e pintura dos automóveis com sua vingança sem razão.
A tempestade é a dona da vida durante o tempo que se estende pela terra, sem pena, sem compaixão, sem remorso, rindo dos estragos feitos para marcar sua passagem e mostrar ao homem a inutilidade de qualquer ciência ante da força bruta da natureza mal humorada.
E ela é linda. E hipnotiza, nos fazendo sentir medo da vida.
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