O retrato do Brasil
O apagão do Amapá é alguma coisa completamente surrealista. Não tem cabimento. É inconcebível. Jamais poderia ter acontecido e, no entanto, aconteceu.
Nem roteirista de filme C chinês conseguiria criar o cenário deprimente, dantesco, pela miséria envolvida, que se seguiu a uma simples queda de raio.
Leia também: Saudades da Eletropaulo
O raio caiu, acertou um transformador que explodiu e ateou fogo num segundo, enquanto o terceiro estava em manutenção.
O colapso foi imediato. O apagão veio, viu e venceu. Em poucos minutos, daí pra frente, centenas de milhares de brasileiros começaram a pagar as penas do inferno, antecipando, eventualmente de forma indevida, um castigo que poderia não ter que acontecer.
Dizer que a culpa é deste governo seria exagero. Também é deste governo, mas os governos anteriores são tão culpados quanto o atual.
O Brasil tem Ministério das Minas e Energia, ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, mas ninguém se dá ao luxo de ver que a concessionária do serviço elétrico do Amapá não instalou ao menos uma rede de para-raios eficiente para proteger seus geradores.
Ninguém fiscalizou para verificar que a concessionária não tinha um sistema de redundância, capaz de manter o fornecimento de energia no caso de uma falha como a que aconteceu.
Leia também: As ruas mais escuras
O empurra-empurra está armado. Todos tentam passar a culpa para o outro. O federal diz que é estadual, que diz que é da concessionária, que diz que é do Espírito Santo, que só olha e não diz nada.
A carga tributária brasileira é das mais altas do mundo, mas o serviço oferecido é lamentável. O duro é que o Ministro da Fazenda quer criar mais impostos, sem dar nada, absolutamente nada, em troca.
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.