Estamos anestesiados faz tempo
O Brasil tem sessenta mil homicídios e quarenta mil mortes no trânsito todos os anos. Pode aumentar ou diminuir um pouco, mas, grosso modo, a ordem de grandeza é essa.
A desigualdade social e a violência resultante dela faz com que a imensa maioria dessas mortes aconteça nas periferias e atinja a população mais jovem. Dependendo do lugar, o jovem sabe que dificilmente viverá mais do que vinte e cinco anos. E a maioria das vítimas são negros e pardos.
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Só isto seria suficiente para despertar a população e gerar movimentos de protesto capazes de sacudir a nação. Mas não é isso que acontece. Nós estamos anestesiados, faz muitos anos.
Mas a violência vai muito além, porque é violência oferecer o ensino que a rede pública nacional, com as honrosas exceções de sempre, oferece.
Nossos jovens saem da escola semialfabetizados. Não conhecem o vocabulário necessário para ingressar numa faculdade, mas ingressam e se formam e aí é preciso um exame como o da OAB parar fazer uma triagem mínima dos futuros advogados. Importante ressaltar que a imensa maioria dos candidatos é reprovada.
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Onde está o erro? Na omissão do Estado, que permite que escolas sem qualquer capacitação enganem e recebam os alunos, prometendo um ensino que não será ministrado. Isto é estelionato, mas não se faz nada.
Da mesma forma que o Brasil não tem um programa de acompanhamento da saúde da mulher ao longo de sua vida. Não tem acompanhamento para a mãe ou para a criança, não tem creches e invariavelmente faltam medicamentos. Isso também é violência, mas não prestamos atenção.
Estamos anestesiados. Os exemplos acima são menos que a ponta do iceberg. A realidade brasileira é ruim e tem tudo para ficar pior.
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