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Caçador de pernilongos

 

Era uma vez um tzar naturalista que caçava homens. Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas, ficou muito espantado e achou uma barbaridade. O poeta faz graça com a tragédia humana, mas, desde que o mundo é mundo, caçamos. Caçamos por necessidade, caçamos por prazer, caçamos por maldade, caçamos porque caçamos.

Caçamos tudo: elefantes, bruxas, cavalos marinhos, espantalhos, sonhos. Caçamos de manhã, de tarde ou de noite…. Ah! As noites na mata, com um cigarro de palha, lanterna e a espingarda raramente usada ao lado do carreiro por onde o bicho deveria vir, mas normalmente não vinha.

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A sexta-feira era a noite do Tatu Branco. Ninguém caçava porque o Tatu Branco atacava o caçador e comia o cano da espingarda.

A vida é cheia de aventuras, umas mais aventurosas do que as outras. As passarinhadas encompridavam os sábados, deitados ao lado do riacho que cortava a mata, com pouca vontade de fazer alguma coisa.

Mas tem quem cace compulsivamente, caçada de sangue, correndo atrás de gente. Com armas automáticas que fazem “ratatata”, como as metralhadoras no Vietnam.

Tem quem cace por caçar, sem querer matar nada; tem quem cace querendo encher as paredes com troféus; tem quem cace porque a caça destrói sua plantação. Tem de tudo e todos têm suas razões.

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Faz muito tempo que não entro numa mata, nem me deito ao lado de um riacho para ficar jogando conversa fora. Confesso, era muito gostoso!

Mas tem uma caçada que eu não abro mão. A mais perigosa, a mais técnica, a mais emocionante. Eu caço pernilongos. Sou viciado em caçar pernilongos e posso garantir que não existe esporte mais emocionante, até porque os riscos são imensos e a adrenalina ferve no corpo.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.