É verão
É verão, o calor bate forte e a chuva chega em seguida, trazida pelo calor africano que transforma a rotina e cria um cenário de círculo do inferno, onde as pessoas assam lentamente, derretendo no próprio vapor.
Não há muito que ser feito. O vírus à espreita é um breque poderoso na vontade das pessoas. Pode mais quem sua menos, quanto mais ar condicionado melhor. Não tem escapatória: ou é ar condicionado ou é o calor martirizando o povo, queimando em fogo baixo, como acontecia quando os romanos eram aprisionados pelos bárbaros ou os cristãos eram mortos pelos romanos.
Calor molhado, desagradável, que mela as roupas molhadas pelo suor do corpo. Não dá vontade de fazer muita coisa. Aliás, também não tem muita coisa para ser feita. A pandemia não deixa.
Os resedás estão floridos, mas a florada dos resedás não pode ser vista como uma revolta contra o vírus. Não há nada de humano nela. A não ser as árvores terem sido plantadas na cidade, não tem nada que possa ser invocado para dizer que os resedás floridos são a reação das pessoas contra o vírus mortal.
Além dos resedás, os flamboyants também resistem e insistem com suas flores vermelhas, como se para eles o calor fosse festa. E as espatódias também entram na dança.
Antigamente elas se chamavam mija-mija. Nome muito mais lúdico e próximo das brincadeiras das crianças, que espremiam as flores em direção das outras crianças, numa guerra onde todos saíam molhados pelo jorro das flores fechadas espremidas com os dedos.
Tem quem vai beber cerveja, tem quem não vai beber cerveja; tem quem vai de máscara, tem quem vai sem máscara. De uma forma ou de outra a vida aguarda, esperando a vacina para cair de cabeça no mundo.
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.