Vacina no Cristo Redentor
Confesso que até agora não entendi porque a vacinação no Rio de Janeiro começou no Cristo Redentor. Num primeiro momento, pensei que poderia ser uma carteirada do Vaticano, preocupado em proteger o filho de Deus da pandemia do coronavírus.
Mas, pensando no assunto, descartei a possibilidade, afinal, o Deus vivo não é alvo para uma pandemia que, afinal de contas, faz parte da essência divina, ou seja, faz parte do Cristo, o que o faz muito maior do que ela, que não passa de um pequeno pedaço dele.
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Outro argumento forte foi invocado por um amigo com quem discuti o caso. Ele lembrou apropriadamente que o Cristo é de pedra e que não há notícia de pedras infectadas pelo coronavírus em nenhum lugar do planeta.
Ora, se não foi uma carteirada do Vaticano, o que com o Papa Francisco não seria de se esperar, nem uma necessidade primordial para proteger o Cristo de uma moléstia que não tem o dom de atacá-lo, quer porque é Deus, quer porque é de pedra, a vacinação no alto do morro não teve qualquer sentido prático, além de encarecer o custo da saúde pública e vender uma falsa sensação de inteligência de quem decidiu fazer a tolice.
Enfim, é mais um retrato de um país que teve o tecido social completamente esgarçado por duas décadas de desmandos de todos os tipos, com ênfase naquele que enchem o bolso do malandro.
Vacinação acontece em posto de saúde. O Brasil é campeão mundial em campanhas de vacinação bem sucedidas.
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Nosso pessoal da área é reconhecido internacionalmente pela competência profissional. E nunca se ouviu falar de subirem o Corcovado para vacinar alguém.
Pode ser que algum esteta tenha tido a ideia genial de driblar o medo de injeção com a vista deslumbrante do alto do morro. Poder ser. Pena que não faça o menor sentido, nem deixe ninguém mais bonito na foto.
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