Saudade
Saudade é sentimento brasileiro. E pelo que dizem, russo. Nenhuma outra língua tem uma palavra com esse significado tão fácil de ser sentido e tão difícil de ser explicado. Como definir saudade? A ausência de alguma coisa que queríamos perto? É pouco. Uma falta muito forte? Também é pouco.
Saudade não se explica, se sente. Saudade é vida refeita com vida que já passou e só quem viveu sabe o que quer dizer viver com isso. Com a ternura, com a angústia, com o sofrimento e a felicidade de viver com isso, furando feito punhal; o peito, as tripas, a espinha, dentro da cabeça.
Saudade é muita coisa, tanta que até a gente duvida. Mas é gostoso de sentir. Faz bem, refresca a alma e aquece o corpo, como o copo de vinho bebido há muito tempo, numa noite distante, sem começo e sem fim, perdida na lembrança das lembranças boas.
Saudade é a porta do armário que se abre, despejando na alma a represa escondida no fundo da agente, que explode saindo pra fora na lágrima quieta que cai lentamente, gota de chuva perdida no vidro, tentando molhar o tapete.
Saudade é tanto, mas tanto, que não dá pra contar, não dá pra explicar, não dá pra segurar, na hora que vem.
Chega e basta. Toma conta de tudo, se espalha por tudo, enche cada buraco, cada poro, cada sensação e cada sentimento, tão completamente que só ela existe, enquanto alegra doendo, trazendo de volta o momento que nunca passou, o tempo que nunca morreu.
Saudade é banzo, não é falta. É nostalgia e tudo que vai além da nostalgia. Lembrança e tudo que dá vida a ela. Esperança. Acima de tudo esperança, no momento eternizado pra sempre.
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