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Caminho sem volta

 

Quando eu era menino, se ia para Santos por dois caminhos: a Via Anchieta, moderna, com curvas e túneis que permitiam altas velocidades – a permitida era 80 quilômetros por hora, inclusive na serra -, ou o velho Caminho do Mar, uma das estradas mais bonitas e complicadas que eu conheci.

À época, não tinha a Rodovia Dom Domênico Rangoni, antiga Piaçaguera. Para se chegar no Guarujá, tinha que atravessar a balsa, o que podia levar algumas horas, mas protegia a ilha da invasão dos turistas de um dia. Ir para lá só valia a pena se fosse para ficar.

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Aí o governador Roberto Sodré decidiu abrir a Piaçaguera-Guarujá. Se, num primeiro momento, pareceu uma solução genial, na sequência, mostrou que não era bem assim. Não tem como separar a explosão de prédios no Guarujá da rodovia que leva até lá.

Com a facilidade de se chegar, aconteceu a explosão desordenada da ocupação da orla da ilha, com a construção de centenas de prédios em Pitangueiras, Astúrias e Enseada. Deu no que deu. O Guarujá é exemplo que os ambientalistas usam para mostrar como as coisas não devem ser feitas. E eles estão certos. Apesar de eu gostar do Guarujá e frequentar suas praias até hoje, sou obrigado a concordar que a construção desordenada destruiu um dos litorais mais bonitos de São Paulo.

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Mas a estrada foi além. Para construir os prédios eram necessários operários e milhares de famílias se mudaram para o Guarujá, atraídas pelo emprego nas obras dos prédios em construção. Sem alternativa, elas se instalaram nos locais onde hoje predominam grandes favelas, com todos os problemas inerentes ao modelo de assentamento.

Mas se não tem como voltar, o que está feito está feito, é preciso muito cuidado para não agravar o erro. Precisa melhorar o que está ruim.

 

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.