O Itamarati fechou
O Restaurante Itamarati, um dos clássicos do Centro Velho, lugar com mais de meio século de histórias de todos os tipos, de uma simples visita para comer uma omelete a discussões filosóficas dramáticas, envolvendo nomes maiúsculos da vida brasileira, o restaurante não deu conta da crise e fechou as portas para sempre. Inclusive já devolveu o imóvel.
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No ano passado, o Itamarati informou que estava fechando as portas. As reações vieram em abaixo-assinados, movimentos de apoio à manutenção do antigo local e artigos do Professor Eros Grau e outros antigos frequentadores, horrorizados com o fechamento do ícone do Centro Velho, antiga casa de nomes de peso na política, nas artes, no direito e na boemia.
Na época, Provedor da Santa Casa de São Paulo, proprietária do imóvel, autorizei nossa Mordomia Imobiliária a fazer concessões importantes para que o restaurante aguentasse o tranco e superasse a crise da região, agravada pela pandemia.
As negociações chegaram a bom termo e o Itamarati se manteve de portas abertas, no antigo endereço do Largo do Ouvidor. Depois disso, estive lá algumas vezes, para comer a tradicional omelete de queijo, meu prato de resistência desde a década de 1970. Sem estar lotado, passado, mas com um número razoável de mesas ocupadas, parecia que o Itamarati sairia da crise, mais vazio, mas com a dignidade de sempre.
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Não foi o que aconteceu. O desmonte do Centro Velho fez mais uma vítima. Não foi a Covid19, foi o abandono, o descaso, a sujeira e a decadência brutal de toda a região que deram conta do Itamarati. Nem sua longa história, nem as passagens únicas de personagens extraordinários deram conta de mantê-lo aberto. Foi fazer companhia ao Maranduba, ao Ouro Velho e a outros restaurantes que fecharam as portas no Centro. Descanse em paz. Seu tempo passou, mas sua lembrança permanecerá.
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