Acabou o verão
“I’ll see you in September when the summer is gone….” É o começo de uma música de mais de meio século atrás. Daquelas gostosas de dançar, de falar pertinho do ouvido, bochecha a bochecha, sentido o corpo dela perto, fluindo, no ritmo da música.
O verão acabou, o de muito tempo atrás e este. Um verão esquisito, em que fez calor, mas um calor estranho, e teve também noite de se dormir com uma manta, fresca, fora do padrão da estação.
Leia também: A calma dos dias de verão
O verão acabou. “É primavera”, cantava Tim Maia com seu vozeirão. Mas não é primavera, é outono. As últimas goiabas caíram e estão apodrecendo no asfalto, nas calçadas, no ciclo da vida que as faz frutificar no verão e, depois, só no ano que vem, depois que a primavera se for.
O ciclo da vida se cumpre inexoravelmente, com vírus ou sem vírus, no passo da natureza brincando de brincar. Se a pandemia corre solta, o problema é exclusivamente nosso. Não me parece que os sabiás tenham alguma preocupação com ela, ou os gaviões que nos finais de tarde sobrevoam minha casa.
Também não ouvi falar das capivaras reclamarem, nem dos ratos terem aberto processo no Procon. Não, a pandemia é dos seres humanos, feita para eles e complicada por eles.
Leia também: As orquídeas no verão
Tem quem complique mais e quem complique menos. A questão é ter pulso para fazer o que precisa ser feito. Enquanto isso, lá fora é outono, não temos vacina para todo mundo, mas temos um novo Ministro e o céu fica mais azul e o verde começa a desmaiar, nos pomares carregados.
Quem sabe até a chegada do inverno as coisas melhorem. Afinal, a esperança é a última que morre. Não tem muito por quê, não tem muito milagre, mas quem sabe as coisas melhorem. Por que não? Deus é brasileiro, então, tudo pode ser.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.