José sumiu
José sumiu. Eu não conhecia José e com certeza nunca vou conhecer. O meu José é obra de ficção, por isso eu sei que ele não vai aparecer de novo. Ele foi criado por mim e eu quis que ele sumisse e ninguém nunca mais o visse, nem eu, como se um sopro de vento tivesse descido a terra, enrolado José e o carregado para o céu.
Mas existem outros Josés que não são personagens de crônicas. Que são reais e que somem sem deixar rastro, sem um sinal, sem um aviso. Simplesmente saem de casa e não voltam. Desaparecem como se meu pé de vento descesse do céu e os carregasse sabe Deus pra onde.
É por isso que o meu José, mesmo não existindo, é triste. Ele foi criado porque fiquei pensando na tortura dos que têm pessoas amadas que somem, sem sinal, sem recado e sem aviso.
Sem uma razão que justificasse sumir, sem um motivo para justificar, primeiro, o espanto, e, depois, a tragédia da ausência, que não é uma morte, e que não é aceita como definitiva.
Imagine a ansiedade de quem fica esperando, por dias, meses e anos, a volta de alguém que não partiu, mas que um belo dia nunca mais voltou.
Como compreender a ausência fora de esquadro e inesperada de alguém que não tinha razão nenhuma para ir embora, e muito menos para sumir?
Não há consolo porque não há certeza. A morte é trágica, mas a morte é definitiva. A pessoa morre. É uma certeza.
Mas quem some, pode estar morto ou não. Pode um dia voltar. Pode não voltar e estar vivo. Pode estar precisando de ajuda, pode estar perdido.
Pode tanta coisa, que a ausência do desaparecido toma conta da vida e mata a alegria.
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