Saudades
A lua cheia brilhava como há muitos anos eu não via. A estrada prateada cortando o mar me lembrou meus tempos de menino, quando tinha tempo para ver a lua, sem pressa, solta pelo céu, manchando as águas do mar, numa viagem de sonho, para além do país dos sonhos, onde tudo é verdade e as fadas voam montadas em vaga-lumes, iluminando o caminho das pessoas.
Ao escurecer ela já tinha mostrado que vinha e como. No final da minha caminhada pela praia, a lua se mostrou no céu, ainda pálida, sem pressa, mas redonda e imensa, anunciando sua chegada pra depois que a noite caísse, dona da cena, apagando as estrelas e pintando as nuvens, para criar um cenário inusitado, onde minha saudade encontrasse as lembranças do passado, de um tempo em que tudo era fácil e a vida corria feito as Valquírias nas cavalgadas de Wagner.
Depois do banho fui até a janela e olhei pra cima. Lá estava ela, no meio caminho da primeira metade de sua viagem pelo céu. Bem em cima da janela do apartamento.
Puxei a velha cadeira de balanço. Arrumei um apoio para os pés, e me sentei para ver a lua estraçalhar a paisagem na sua viagem inadiável, rumo ao dia seguinte, cortando o céu e enfeitando as nuvens com o brilho mágico que as feiticeiras usam para cegar os homens apaixonados.
Viajei na paisagem. Me lembrei de estórias antigas. De pessoas e situações que a distância do tempo não afastou, nem me fez esquecer.
Cada onda remexendo a estrada de prata era um amigo, uma amiga e a soma de muita estória bonita. Não resisti. Peguei o telefone e, sentado vendo a lua, fui ligando para os amigos com quem compartilhei tantos momentos. Ouvi-los foi bom e foi belo. Como as saudades que eu sentia.
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