Força da poesia
O Caderno de Elegias do poeta Santo Souza é poesia com letra maiúscula. Tem a força do verso de Castro Alves, o voo cósmico de Paulo Bomfim, a ternura de Manuel Bandeira e a humanidade de Vinícius de Moraes.
Por isso, eu descobri que a forma certa de ler Santo Souza é em voz alta, declamando seus versos, para entrar na melodia fascinante de um poeta maravilhoso, que toca a alma e os sentidos, com a mesma intensidade.
Cada palavra usada em cada verso tem um peso que vai além do seu significado próprio. Ela se recria em algo maior que a semântica ou a gramática, em ideia, como os símbolos chineses que podem exprimir a composição de um universo num único caractere.
E na sequência dos versos elas se multiplicam em sons pausados, com uma toada especial que lhes dá quase o ritmo dos hinos, como se fossem feitas para marchar, para seguir adiante, com as mãos levando flores para uma saudade inexplicável, perdida em algum lugar do futuro.
Santo Souza é poeta de grandes distâncias, de encontros com monstros e de vitórias sobre eles. Mas é ternamente humano no carinho pela mãe morta, na certeza da melancolia de Deus, no muito pouco que cada um de nós pode fazer diante da vida.
É também, a seu modo, um Sísifo conformado com a obrigação de rolar sua pedra. E por isso a cada passo tenta fazer melhor, dar mais de si, na tarefa sobre-humana a que todos nós somos condenados. A poesia de Santo Souza é o homem em sua luta, ou, melhor, um raio brilhante iluminando a vida em volta.
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