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O voo dos urubus

Urubu é bicho feio, tem cabelo até no joelho. O verso da marchinha é verdadeiro, com é verdade que antigamente se fumava Iolanda e se usava chapéu de banda.

O tempo passou, ninguém com menos de 60 anos viu na vida um cigarro Iolanda e, faz tempo, ninguém mais usa chapéu em São Paulo. Mas os urubus, estes voltaram para a cidade, e tomaram conta de todas as regiões, espalhados à vontade pelos céus e postes urbanos.

É gozado vê-los pousados nos postes altos da marginal do Pinheiros, como se estivessem nos galhos dos eucaliptos, procurando carniça com seus olhos aguçados.

E é lindo vê-los voando, planando alto, senhores absolutos do céu. Nunca vi um condor voar. Deve ser mais bonito ainda, porque o condor é um urubu crescido, com asas maiores e, portanto, mais capacidade de planeio. Mas, na falta dos condores que ainda não vieram para cá, os urubus são mais do que suficientes, em seu voo planado, sem pressa, normalmente pelo menos aos pares, como se estivessem brincando e o céu fosse o fundo para realçar suas acrobacias de pilotos da primeira guerra mundial.

Além dos urubus, São Paulo tem também em seu cenário garças e outras aves grandes, como os quero-queros e os gaviões.

É bonito vê-las voando, mas nenhuma delas tem um voo tão harmonioso e tão leve como feio urubu, que tem cabelo no joelho e come carniça.

Ou melhor, comia. Em São Paulo o lixo, em aterros ou qualquer outro lugar, é muito mais rico e mais fácil de ser encontrado e comido. É por isso que os urubus gostam de voar aqui.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.