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Espatódia ou Espatodea?

A árvore é linda, atinge tamanho de gente grande e as flores são deslumbrantes. Em São Paulo, algumas das mais belas estão em Perdizes, plantadas ao longo das ladeiras do bairro. Seja lá pela razão que for, gostam de florir fora de época e isso faz a diferença, embelezam a região quando ninguém espera, como que para mostrar que São Paulo é anárquica e tem vida própria, seja gente, seja árvore.

Espatódia ou espatodea? Qual o nome correto dessa árvore que chama a atenção pelo tronco, pela altura e pelas flores?

No começo de tudo, para mim, eram mija-mijas. Na fazenda, fazíamos guerra espremendo suas flores, que esguichavam longe a água acumulada, atingindo os adversários com os “tiros” mais ou menos certeiros, disparados com os dedos espremendo a flor.

O nome estava tão consolidado que, quando o irmão do General De Gaulle, então prefeito de Paris, visitou a fazenda e, maravilhado, vendo a grande planta florida, perguntou que árvore era aquela, tio Júlio Salles não hesitou: – C’ést um mijá-mijá!

Anos depois, tia Lia, que entendia de plantas como muito pouca gente e que, além de cuidar do jardim da fazenda, tinha um jardim lindo em sua casa de São Paulo, um dia me contou que o mija-mija se chamava de verdade espatódia.

Quando comecei a escrever as crônicas e cantar as árvores da cidade, ao falar espatódia, me corrigiram, o nome certo seria espatodea. Não duvidei, tem gente que sabe muito mais do que nós, então quem somos nós para duvidar do que nos dizem?

Espatodea é mais científico, mais clássico, o que pode sinalizar que seria o correto, mas, honestamente, correto ou não, prefiro chamar o mija-mija de espatódia. É uma homenagem para tia Lia.

 

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.