A cidade tem vida própria
As cidades são corpos com vida própria. Traçam seu destino na soma de todas as vontades e todos os sonhos de todos os moradores. É um caldo denso e sólido, que alimenta a malha urbana e a faz se expandir ou encolher, conforme o resultado desta soma impossível, mas real, que bate no coração de cada um e de todos e se espalha pelas veias, pelas ruas, pelos caminhos e roteiros que se estendem pela sua malha.
A respiração da cidade é densa e forte. Se assemelha ao ronco de um gigante adormecido e é formada por todos os sons, todas as emissões, todas as luzes e os cantos escuros ocupando seus espaços.
A fumaça aumenta ou diminui a poluição que cerca a imensa área da metrópole ensandecida, que não perdoa a derrota e premia os vitoriosos com o brilho enganador de uma hipotética eternidade.
Ao vencedor as batatas e que o jogo siga em frente na correria do dia a dia e no descanso ao final do dia. A cidade não se compadece, nem se enternece. Para ela, a realidade é apenas a realidade. Os sonhos são a promessa do amanhã e as ilusões, as trilhas mal percorridas que terminam antes do seu final. Coitados dos que têm ilusões! Seu caminho é curto e o final tende a não ser feliz.
Cantava o poeta: Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade.
A cidade é real, brutal, surreal, etecetera e tal. É tudo verdade e mais um pouco. Não compreendemos todos os seus contornos, nem suas cores, nem seus horizontes. Vemos pouco, dentro do labirinto de ruas e prédios que se sucedem quase que infinitamente, até muito depois da última trincheira.
Sei pouco. Sei menos ainda da vida da cidade. Mas moro nela, vivo nela, respiro ela e isso me faz parte indissolúvel de sua essência.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.