Por que não?
A pergunta não é por quê, a pergunta é: por que não? Por que é assim? Não tem por quê. Por que não é assim? Tem por quê. A diferença é imensa e explica tudo o que nem sempre conseguimos entender e que faz a diferença.
Nem sempre temos condições de entender o que acontece. Não temos explicação, não temos parâmetros, não temos razão ou motivo, mas é assim que acontece e não há nada que possamos fazer para impedir que aconteça.
Ninguém vai entender por que alguém é atropelado. Se chegasse um minuto antes ou um minuto depois, o acidente não aconteceria, mas alguma força além da nossa compreensão faz a pessoa chegar no momento exato em que o carro também chega e os dois corpos colidem em plena rua sem movimento, onde as crianças ainda brincam porque não tem perigo.
Também não há razão para se contrair uma doença como a covid19 branda e outra pessoa contrair a forma aguda. Não há razão para um ser escolhido pelo vírus para morrer e o outro não necessitar nem mesmo hospitalização.
Por que é assim? Melhor perguntar: por que não é assim? A diferença é o hiato, que faz toda a diferença, que separa o dia da noite, a erva daninha da erva medicinal, o camarão de água doce do camarão de água salgada.
O “por quê?” é taxativo, impositivo, não permite discussão, nem plano B. O “por que não?” aceita a discussão, abre uma porta, permite que o inexplicável se torne palatável, por mais duro e cruel que seja a resposta.
As grandes tragédias nem sempre têm explicação. Acontecem. Se abatem com a força dos tornados batendo na terra, dos ciclones erguendo as ondas.
Não há resposta. Apenas uma ordem que nós não compreendemos e que nos atinge e nos fere, sem explicação e com indiferença.
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