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Os dias azuis

Existem dias e dias, com diferenças enormes, algumas tão sutis que é quase impossível vê-las, e só é possível percebe-las quando arrumamos tempo para olhar em volta e sentir que alguma coisa na ordem das coisas mudou, ainda que de forma tão leve quando o roçar da pétala de uma orquídea na face de uma mulher.

Mas se por fora a mudança é leve, por dentro pode significar uma nova ordem para uma parte do mundo. Pode representar um novo cenário para o jogo da vida. Pode trazer de volta a esperança de uma esperança melhor.

Entre essas nuances, quem sabe, nenhuma outra tem a aura de um dia azul. Um dia de céu infinitamente azul e translúcido.

Quantos e quantos dias azuis passam e se perdem porque ninguém olhou para cima? Porque a vida não deu o tempo que o tempo precisava para mostrar na sua passagem o azul do dia?

Mas, quando temos tempo para olhar para cima, num dia de inverno, nada é melhor do que a sensação de infinita cumplicidade que o azul do céu promete, e que rapidamente se estabelece entre ele e a gente.

É como se a transparência do ar, mesmo embaçada pela poluição, nos trouxesse das curvas do universo a boa vontade de Deus.

A simpatia infinita que nos torna infinitos, ainda que não passando de minúsculos grãos, perdidos num grão minúsculo, rodando em volta de um sol menor.

Ah, ser infinito na transparência azul de um dia de inverno! Ser parte do movimento eterno dos astros e ainda que tenuemente entende-lo, porque somos parte de sua essência!

Viajar no tempo, sem presente ou passado, carregado pelo azul que nos liga ao umbigo primevo que gerou toda a vida.

Ser mais que a cidade que nos rodeia, ser, simplesmente…um ponto azul, mais azul do que o azul do céu.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.