Sudoeste no Guarujá

O dia amanhece sonso, cinza claro, com cara de quem não sabe para onde vai. Mas é só pra enganar. Desde antes da manhã o dia sabe o que vai acontecer e se prepara com todo o cuidado, pensando cada detalhe, na onda que começa a subir, na cor do mar que muda para cinza escuro, nos reflexos de um sol que não brilha, mas arde, no primeiro vento que entra ainda como brisa.

A manhã passa na praia indefinida. Está quente e não está, mas fica abafado na brisa que de repente para. O ar se imobiliza, se contrai, na espera de alguma coisa que vem, mas ainda não chegou.

E a manhã se estica na lufada de vento que mexe as folhas do chapéu de sol. Avança e o cinza começa a ficar mais escuro no horizonte entre a Moela e o morro.

Algumas nuvens escapam, vem em frente como uma mancha se espalhando pelo céu cada vez mais cinza e, no fundo, mais escuro.

Uma rajada de vento frio corta a avenida. Os chapéus de sol deixam suas folhas balançarem – não adianta se opor – e este é só o primeiro sinal.

Minutos depois, o vento passa de novo, mais forte.

E a tarde começa a cair com o céu fechado, cinza de diversos tons, fazendo dupla com o mar escuro, opaco, marcado aqui e ali pela espuma de uma onda ao largo, levantado pelas ondas que quebram na praia cada vez mais fortes, mais altas e mais fundas.

De repente, a tempestade escapa. Primeiro a ventania varre a areia, toma a avenida, passa assobiando nas janelas dos prédios. E aumenta e aumenta e aumenta, feito turbina de jato na cabeceira da pista.

Então a chuva entra. Grossa, enviesada, em grandes pingos, alucinada na força do vento puxando a tempestade, enquanto no horizonte os raios explodem trovões anunciando o começo do fim do mundo.

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