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Os pássaros nas madrugadas do verão

Nas madrugadas da primavera é comum se acordar de madrugada e ficar escutando, desde ainda escuro, os pássaros piando, cantando, chamando as fêmeas.

No verão isso não é possível. Os pássaros nessa época do ano simplesmente não cantam tão cedo. Pode ser que o calor os faça ficarem com sono e com vontade de dormirem mais um pouco em função da noite mal dormida.

Pode ser só preguiça mesmo. Causada pelo tempo úmido e quente que se impõe pesado, ainda mais para quem não pode tomar um chope gelado no final da tarde.

Pode ser porque agora já estão acasalados, preocupados em construírem seus ninhos, para receberem com conforto os filhotes a caminho.

O fato incontroverso – como diria uma advogada do escritório – é que nos meses de verão quem acorda de madrugada e fica na cama brincando de croquete enquanto o dia amanhece, invadindo o quarto com um começo de claridade, não escuta os sabiás piando a partir das quatro horas.

Eu não sei se é bom ou se é ruim, especialmente para os pássaros. Afinal, eu não sou um sabiá, mas, para mim que volta e meia acordo de madrugada e brinco de croquete rolando na cama, é a certeza de que os ciclos da vida se sucedem e se complementam, sempre em sequência, sempre na cadência cósmica, mas sempre de outra forma, diferente, ainda que semelhante.

Cada primavera que é substituída por outro verão, marca sua passagem, no tronco das árvores, no número de pássaros, em mim.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.