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Os sinos ainda batem

Eles ainda batem. Já não batem tão forte, mas ainda batem e eu os ouço, quando o inferno do trânsito, ou a loucura do dia a dia me permite ouvir os sons guardados na alma, ou na gaveta das lembranças.

Batem como batiam quando eu era menino, nas tardes infinitamente azuis, que hoje são todas as tardes, mas que naquela época eram principalmente as tardes de maio e junho, quando o céu fica sempre mais azul e transparente.

Batem a saudade de coisas que não existem mais. Batem a fazenda que não existe mais e um modo de vida que não existe mais, mesmo a fazenda e a colônia estando lá, mesmo o morro estando lá, mesmo o céu tendo pores do sol que o tornam vermelho e que trazem Deus para mais perto.

Trazem Deus para mais perto! Trazem a vida para mais perto!

Os sinos da capela da fazenda batendo às seis da tarde falam de coisas distantes, mas próximas e vivas, mesmo a menina que tocava o sino tendo crescido e saído da fazenda, mesmo o sino não tocando mais, mesmo meu pai tendo vendido a sua parte e a fazenda hoje ser um sítio, com o morro em frente não sendo mais dela e o horizonte ter outro desenho, que também não é o do meu tempo de criança.

Mas os sinos batem, batem, batem…Batem no ritmo do meu coração lembrando da árvore oca, que era um jequitibá enorme e que caiu numa noite de tempestade.

Lembrando do meu cavalo Nativo e dos outros cavalos que eu ia buscar no pasto: Sete dedos, Gilbertão, Gastúrias, Fio de ouro, Sanhaço, Rita, Valete, Penacho…

Lembrando de tantos rostos que hoje eu não vejo mais…

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.