Os pernilongos estão chegando
Não tem nada de pessoal, a favor ou contra. É apenas uma constatação científica, comprovada com o sangue de meu corpo, sugado impiedosamente pelos pernilongos que estão voltando.
Isso mesmo, os pernilongos estão voltando. E numa rapidez alucinante, como se tivessem perdido a última eleição e agora quisessem dar o troco, tomando o que tem e o que não tem como despojos de guerra.
Confesso, eu não gosto dos pernilongos. Tem quem achará a afirmação politicamente incorreta. Afinal, temos que gostar de tudo e de todos, mas eu não sou perfeito. Então não gosto de chuchu, couve-flor, quiabo e jiló, da mesma forma que não gosto de pernilongos, borrachudos e muriçocas. Para não falar nas mutucas. Mutucas são a antessala do sexto círculo do inferno, uma breve demonstração do que nos aguarda ao longo da eternidade.
Mas o tema é a volta dos pernilongos. Aliás, eles sempre estiveram aqui. Um pouco mais, um pouco menos, dependendo do governo e de sua vontade de enfrentá-los.
Em alguns momentos se pensou inclusive que tivessem conseguido trajes especiais, parecidos com o traje dos astronautas, que impediam que o veneno os alcançasse.
Agora, eles ressurgem das poças d’água espalhadas pela cidade e das várzeas sujas, em bandos cada vez maiores, e invadem as casas com a sem cerimônia dos tanques nazistas atravessando as Ardenas em 1940.
Como ainda estamos na primeira parte do calor abissínio que promete tostar a cidade ao longo do verão, ou nossas autoridades entram de sola imediatamente, ou a batalha estará perdida e milhares de litros de sangue serão sugados impiedosamente por milhões de pernilongos em vez de serem doados para os bancos de sangue.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.