Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Constância

Quando as estradas de tão velhas não levarem mais a lugar algum, estendendo-se como grossas cicatrizes sobre a terra longamente machucada pelas mãos humanas que a submeteram e a sugaram, até arrancar de seu seio a última seiva.

Quando as cidades forem só ruínas antigas que a mata esconde na sua volta aos chãos primevos, onde crescia antes da chegada do homem.

Quando o silêncio das máquinas falar de civilizações que há muito não existem, engolidas pelo tempo inexorável, e suas carcaças forem apenas monumentos incongruentes para um deus que já morreu.

Quando o quando for uma palavra vazia de sentido por não haver na terra mais ninguém para escuta-la.

Quando formos menos que um grão de pó girando em volta de uma estrela morta e a dança do universo prosseguir sem se importar com a nossa efêmera existência.

Quando a última fronteira estiver rompida e nossos herdeiros vagarem por outras galáxias em buscas de outros sistemas solares onde possam ancorar seus sonhos.

Quando a memória coletiva do derradeiro povo não se lembrar mais que um dia houve um planeta terra onde a espécie começou e de onde partiu para conquistar os mundos.

Quando o universo estiver no último degrau do seu processo de envelhecimento e a massa dos buracos negros desequilibrar seu precário equilíbrio.

Quando a lembrança for menos do que a lembrança, ainda assim meu amor estará vivo, te querendo sempre mais feliz.

Meu amor estará vivo te fazendo viva, ainda que em outra forma ou de outra forma, em outro mundo ou dimensão, tenuemente como uma sombra que se recusa a se apagar com chegada da noite.

Meu amor estará vivo, te amando, ainda que no meio da eterna noite.

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: SpotifyGoogle Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.